A minha experiência como Autista e Mãe

 Eu compartilhei da minha pagina algumas dicas de como lidar com um filho/a autista. 

Também compartilho várias vezes vitórias, sucesso, etc da minha filha porque é assim mesmo que a sociedade tem que nos ver. Independente das nossas dificuldades o objetivo é mostrar que não somos “um nada neste mundo”, podemos contribuir para a comunidade ou a família de forma positiva. A NOSSA EXISTÊNCIA É ESSENCIAL! Especialmente quando querem tornar legalizar abortos só pelo simples facto de ter deficiência. Eu amo a minha filha e ela trouxe me muita sabedoria, fez me reconhecer o que sou, fez me ser mais paciente, ensinou me que tudo nesta vida tem um objetivo ou missão, ensinou-me a ser forte mas a parar sempre que necessário, a controlar “as minhas colherzinhas”, a ser uma pessoa melhor duque fui, mas acima de tudo ser uma mãe melhor. 


Contudo, nem tudo é um mar de rosas. Hoje por exemplo a minha filha fez um meltdown por mais de 2 horas. Alguns pais nem sabem indentificar o porque, mas no meu caso eu sei porque estou a tentar que ela volte a dormir na caminha dela. Entao mesmo sem estar ainda na cama, só pelo facto de ela beber o leite e pensar que vai dormir associou automaticamente que iria colocá-la na cama dela. E só se calou depois de +2h quando me deitei com ela na minha cama. Mas nem sempre reconheço o que ela quer e quais são os motivos dos meltdowns, porque chora ou o que quer.

É errado tentar? Não. A gente deve manter sempre a mesma rotina e tentar que a criança se adapte. Porém não é fácil lidar com uma mudança e tem que se ter muita paciência. Com muitos carinhos e massagens, ia acalmando-a. 

Também está a ficar MUITO selectiva, eu que sempre ensinei a minha filha mais velha, que se come o que houver e estiver no prato (hoje vejo que talvez também porque fui criada assim)! Pois é ! Mas também é essencial ter em consideração que uma coisa é uma birra e não querer comer, outra é um problema sensorial e não conseguir! Então tem que se oferecer variedade mas não insistir, depois com outra criança que cresceu ensinada a comer de tudo de repente vê as selectividades da irmã e adaptações não é fácil. Muitas vezes também quero berrar! Mas respiro fundo e olho para a sua cara de anjo tão pequena e tão inocente. Não merece isso! Além de que não iria ajudar com nada. E muito possivelmente, so piorará as coisas. Porque a cada berro ela sentirá desprezo e se vingará na violência (e vamos concordar que não é isso que queremos). 



                                                                                       Ela também parte, rói, morde, etc. Mas…é só uma criança. Materiais vão e vem, mas afecto e amor é o que fica para sempre registrado na sua mente.

Não esquecendo que também tem crises epilépticas, então eu tenho que saber levá-la com calma para não a desregular emocionalmente.   




Mas não estarei a mimar demasiadamente? Não! Amor não tem limite! Quanto mais tentamos entender e adaptamo-nos as nossas crianças, mais elas terão a tendência a chegarem-se a nós. A procurar pelo nosso carinho, brincar, compartilhar problemas, etc. 


A uns meses atrás alguém muito próximo de mim se afastou, claro que não me disse directamente mas eu sei que se afastaram pelas escolhas da minha filha mais velha. Engraçado sabem o que é ? E eu saber que a filha dessas pessoas tem os mesmos gostos que a minha filha. Porém, não tem a coragem de dizer aos pais. Inclusivamente, ja tentou o suicidio e o que eu faço? Eu aceito a minha filha da forma que ela é, amando-a incondicionalmente e espero que com o tempo e a “rega da semente, colha os meus frutos”, como sempre fiz. Porque neste mundo eu não sou mais, nem menos que ninguém. E o que se planta se colhe! 

Palavras dignas do meu pai: “Respeito e confiança, não se ganha de um dia para o outro. Por vezes leva anos a ser conquistado! Mas cuidado! Pois podes o perder em meros segundos!” 


Isto tudo para dizer, que nós também confrontamos dificuldades! Eu também choro como mãe! Eu também preocupo-me com o futuro da minha filha! Eu também tenho medo e inseguranças!

Eu conheci este mundo da Neurodiversidade pela existência da minha filha. A primeira coisa que procurei quando me apercebi que a minha filha podia ser autista foi: 

“Como os autistas vivem?”

“O que eles fazem em adultos?”

 “Quais são as suas maiores dificuldades?”

“Que conselhos me dariam?”

“Que suporte eles acham mais adequado?”, etc.

 Eu pesquisei muito e envolvi-me virtualmente em vários grupos e ouvi os seus depoimentos e histórias. Acabei-me indentificando com muitos deles, onde descobri que também era Autista.  E claro, que cada Autista é diferente! O que me incomoda, talvez não incomode a minha filha. Os meus gostos, podem não ser os dela, as minhas sensibilidades não são as dela e vice versa. Então, mesmo com muitos anos de experiência em viver como Autista e educar-me muitas vezes sozinha, sendo a minha própria terapeuta muitas vezes, não sei tudo. E a prova é que confrontei-me com uma sobrecarga Autista e ainda não saí dela. 

Facto, nós…

Nós, também temos dúvidas! 


Nós também não somos perfeitas! 


Nós também somos humanas! 


Nós também somos dignas de respeito, independente da idade ou deficiência! 


Nós também, somos úteis! 


Nós também existimos! Mesmo que se diga que Autistas não gostam de se reunir ou conviver. Isso é mentira! O que nos leva a não o querer fazer, é a incerteza de como nos comportar! É saber o que dizer, para onde olhar, como vestir, o que calçar, ter o cuidado de saber-se expressar, etc. Mas uma vez que somos aceites da forma que somos, temos sim confiança e segurança de falar sobre o que gostamos ou não. E claro, não gostamos muitas vezes de viver isoladas. 


Nós também, ouvimos mesmo que não olhemos quando estão a falar para nós, ou estamos “distraídos”, ou simplesmente não da forma que a sociedade requer! 


Nós também, imitamos. Como é? Se me maltratam eu não vou ficar calada! Certo? Talvez a minha reação não seja na hora, mas irei reagir! Também mentimos, se aprendemos que aquela mentira é “normal” e beneficial (verdade temos mais dificuldades, mas não é impossível), podemos também brincar, imitar o que os animais fazem, imitar o que queremos imitar, no fundo como neurótipicos. Eles não imitam tudo! Certo? Só o que lhes interessa! Nós também! 


Nós também, pensamos! Mesmo que pareça que estamos “num outro mundo”, temos a capacidade de pensar e refletir por vezes muito melhor que muitos neuróticos. Podemos levar mais tempo a nos expressar, mas não quer dizer que não entendemos ou que a nossa inteligência é menor (comprovado que não tem nada haver). 

Nós também gostamos de música! Essa de que Autistas não podem com música alta é mentira! Nem todos os Autistas são assim e a maioria adora fazer barulho. Digam-me lá se os vossos filhos não são a pessoa mais sensível e mais barulhenta? 

Nos também não somos rótulos! Eu sigo uma conta Inglesa no Twitter de um pai que posta diariamente assuntos sobre autismo e o seu filho Autista (severo). Ele com um grande sorriso nos lábios, estava a passear com o seu pai. Eu porém Autista (não severa e não indicando o nível porque não pacto com isso), estava de rastos deitada no sofá, esgotada sem poder me mexer. Triste refletindo na incapacidade que tinha. Então, rótulos não significa ABSOLUTAMENTE NADA! A única coisa que indentifica é que a pessoa precisa de um pouco mais de suporte na sua vida cotidiana. Porém, não tira a capacidade de ser melhor ou pior. “Mais grave ou ligeiro”. 


Somos isso tudo, como você que está a ler! Cheias de incertezas, dúvidas, medo e insegurança. Mas damos o nosso melhor, a passo de bebé, um dia de cada vez. 

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